segunda-feira, 27 de abril de 2009

17/03/2009 - Opinião Nosso novo prefeito

Há fatos que podemos reconhecer que são, no mínimo, curiosos. Ao chegar ao shopping, no final da tarde de domingo, eu e minha filha decidimos cada uma ir para um lado. Subindo as escadas ouvi: “Mãe, mãe! O Rodrigo!”, num tom nada baixo por estarmos num local público. Então, pensei qual Rodrigo seria, senão o atual prefeito, o qual tive o prazer de conhecer através de amigos numa pizzaria da cidade, mas sem falar em política - uma pausa, imaginei. Por ter vivido quase 20 anos na cidade de São Paulo, há alguns anos de volta a Bauru, só naquele momento pude me dar conta do quanto minha filha estava prestando atenção em questões que eu nem poderia imaginar, neste caso, na política local.

No momento em que ela me alertava para a presença do prefeito, me questionei de onde veio esta eufórica admiração. Só poderia ser das conversas de bastidores que ela ouvira e presenciara, como na última ocasião onde pude falar em política com este prefeito, naquele mesmo local. Disse que estávamos torcendo por ele, que Deus o protegesse em suas conquistas - e das “urucubacas” que ocorrem em nossas vidas, em especial, na vida pública, completei em pensamento. Na última semana, a imprensa muito comentou sobre uma das primeiras desavenças sobre a questão de cargos e posições ocupadas no primeiro escalão da prefeitura. Cada lado apresentou a sua versão. Nós, meros espectadores dos acontecimentos políticos, aguardamos uma desejada apaziguação dos ânimos e que tudo se encaixe nas devidas proporções em que todos os interesses sejam contemplados, ficando, em primeiro lugar, os interesses dos cidadãos bauruenses. Afinal, como sempre apostei, ganhamos um prefeito jovem, dedicado, de muita garra e competência - quantas vezes pude encontrá-lo de madrugada na rodoviária! Usando todos estes méritos a seu favor, não há o que não possa impedi-lo de exercer um excelente mandato, explanava eu à Allana de volta para casa, e quiçá desenvolver uma bela carreira política. Assim, sendo, sorte nossa, sorte de Bauru, quem sabe, um patrimônio bauruense.

As iniciativas do novo prefeito estão sendo muito bem-recebidas, Suas atitudes são coerentes com seu discurso. E não sou só eu que digo isso. Ora ou outra ouvimos isso da imprensa ou de um eleitor engajado. Bauru pôde retornar, finalmente, mesmo que de forma tímida, o Carnaval de rua, agradando, principalmente, quem não possui outro tipo de diversão. Os novos projetos internos contam com programas de qualidade total, plano de carreira para servidores públicos e muitas outras iniciativas que deverão transformar este caldo de cultura organizacional repleto de mazelas que refletiu diretamente nas entranhas do poder político e ainda arraigado num saber fazer. A cultura da corrupção, do desperdício, da falta de engajamento com o eleitor que paga seus impostos rigorosamente, da falta de objetivos centrados em planejamento e, finalmente, falta de respostas acertada à população, é tudo o que desejamos que se transforme.


A autora, Adriana Nigro Cardia, é jornalista e mestre em comunicação organizacional pela USP - e-mail: adriananigro2002@yahoo.com.br. Fonte: Jornal da Cidade. Bauru.
Adriana Nigro Cardia

22/01/2009 - Opinião ‘Tempo de Violência - Pulp Fiction’

“Deixa, deixa, deixa, eu dizer o que penso desta vida, preciso demais desabafar.” Uma letra muito boa de um rap (ritmo e poesia), acredito eu, mesclado com um estribilho em ritmo de samba que está tocando nas rádios e que lembra os cidadãos de suas responsabilidades em cobrar das autoridades mais decência nesse nosso mundo perdido em violência. Sete ocorrências graves, de assalto à mão armada e invasão de residências na nossa querida cidade de Bauru na última noite de Réveillon. Uma cidade que até pouco tempo se falava menos sobre a violência. Com esse cenário, viramos a página de mais um ano. É triste verificar que o medo aumenta a tensão nos lares de Bauru; de idosos que residem sozinhos não terem mais a liberdade que tinham de poder ficar tranqüilos em suas próprias casas. A lógica fora invertida. Quem se torna prisioneiro são as pessoas de boa índole, escondidas de malfeitores que desejam a infelicidade alheia. Quando criança, sempre defendia - pelo menos em pensamento - o direito dos aprisionados, acreditando na injustiça que o mundo lhes causara.

Há poucas semanas encontrei o filme que tanto procurava para adquiri-lo; “Tempo de Violência”, do diretor americano Quentin Tarantino, que se tornou um dos diretores mais conhecidos de Hollywood modernamente por ter aprendido a fazer cinema vendo filmes numa locadora que trabalhava. Quis muito rever a cena com o galã John Travolta e sua última aparição no cinema, dançando, assim como construiu sua carreira empolgando toda uma geração. Mas que nada! Não consegui chegar até o fim do filme. Era muita violência em cada capítulo. Pouca dança e muito sangue. Percebi que não era mais aquela jovem que encarava com tanta facilidade as artimanhas do mundo. Não consegui, até agora, retomar de onde parei no capítulo onde o galã mata a queima roupa no banco de trás do carro em movimento um adolescente traficante. Brinco que o filme é proibido para menores de 18 anos e maiores de 60. Não deixei minha mãe ver. Ela queria tanto assistir a um bom filme de ação.

Imediatamente, me veio aquele velho questionamento. ‘Por que os meios de comunicação transmitem tanta violência; por que ela é tão retratada na mídia’? - porque esta comunicação é gerada sob o ponto de vista do produtor. Então me atenho com a velha resposta, óbvia para uma professora de Comunicação Social: porque o público se interessa. Se este público não se interessasse, não haveria comércio. E então me perguntei, novamente! Mas por que o público se interessa? E respondi a mim mesma: porque falta muita criatividade
na TV e no Cinema de forma que os formadores de opinião consigam transmitir muito mais tudo de bom como forma de entretenimento e muito menos tudo de ruim. Porque falta vontade política para regulamentarmos melhor os conteúdos em canais abertos e diversas produções para que não tenhamos tantos exemplos de pouca criatividade - o que não é o caso deste filme, muita falta de decência e muito desrespeito para com a vida alheia. Porque o que não existe, a gente inventa. Registro: o filme causou muita controvérsia, como por exemplo, se para falar sobre a banalização da violência é preciso mostrá-la como se faz.


A autora, Adriana Nigro Cardia, é jornalista e mestra em Ciências da Comunicação pela USP - e-mail: Adriananigro2002@yahoo.com.br. Fonte Jornal da Cidade - Bauru.